quarta-feira, 27 de maio de 2015

Seu Jorge faz música para divertir, mas sem se esquecer do lugar de onde veio (e para o qual não quer voltar)

Homem de Classe
Você já disse que nunca quis tocar na favela, porque fez de tudo para escapar daquela realidade.
Favela não é lugar para ninguém. Favela não é legal. Não tem segurança, não tem saneamento, não tem hospital, não tem porra nenhuma. Favela só sofre preconceito. Eu quis sair mesmo. Eu não quis ficar enterrado na favela. Nasci lá, mas não quis ficar enterrado lá. Favela não é meu mundo, meu tudo, porra nenhuma. A favela é o abandono que o governo deixou pra gente. E hoje eu não quero tocar na favela para não me envolver com tudo que está errado lá dentro.
E não tem como não se envolver?
Minha flor, olha só, não vamos ser hipócritas aqui, né? Eu sou um pretinho tentando viver honestamente, coisa que é muito difícil no Brasil. Você correr pelo certo no Brasil é foda, é muito difícil. Então, imagina, você vai cantar numa área que é dominada pela milícia, seu pagamento vai vir do dinheiro da milícia. Eu não quero me envolver com isso, cara. Agora, quando for pacificado, quando não tiver nem milícia nem bandido, eu vou. Mas, se tiver essa complexidade, como posso estar lá, se eu não quero me envolver? Não tem como. A comunidade muitas vezes está na mão de uma milícia, na mão do poder do tráfico. Aí, você entra pra tocar na comunidade, mesmo convidado pela associação de moradores, mas o dono da milícia quer conhecer você, quer tirar foto contigo, quer seu telefone. E você vai dizer não pro cara? Melhor não ir.